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pela banda de maior sucesso no país, o LP do Cabine inaugura o selo
em que o RPM vai investir os trunfos de seu prestígio, um dos grupos
prediletos dos porões paulistanos parte para enfrentar o grande público
Fósforos de Oxford - Título do primeiro LP do Cahine C, talvez os tire
da obscuridade. Depois de passar dois anos navegando pelas tortuosas
agitas do underground paulistano, o grupo aportou no recém-inaugurado
selo RPM Discos e agora parte não se sabe para onde... Vamos ser jogados
aos leões. Não sabemos se vamos domálos ou ser comidos, diz Ciro, vocal
e guitarra da banda. A dúvida é plausível. Afinal algum ouvido menos
educado poderia, de cara, tachá-los com aquela palavrinha que tanto
tem incomodado os que têm um mínimo de informação: dark. A bem da verdade,
o som do Cabine pode parecer sombrio, o que é determinado, principalmente
pelos arranjos, letras e voz dc Ciro Pessoa. Ele olha sóbrio para a
questão e responde: Faz parte da natureza da minha arte. Sempre foi
desse jeito. O Cabine define assim sua estetíca musical: A gente obedece
a um certo clima que cada instrumento evoca uma escala das cores diz
Marinella 7. Cada música tem um momento redondo: o nascer e o anoitecer
do dia... Branco, amarelo, lilás, azul completa Vãnia, gosto do nome
Fósforos de Oxford que dá uma luminosidade às idéias: à luz de fósforos,
emenda Anna Ruth.O nome do grupo remete à cabine "C"
de um navio que parte... "E percorre um roteiro. Passa pelo Oriente
Médio na música que dá título ao LP: Buenos
Aires no tango Lapso de Tempo: ou Japão através de Jardim
das Gueixas fala Ciro. Wania brinca: A gente sempre leva a bússola
para não se perder. De outro lado, têm-se as referências
literárias fortemente presentes neste repertório.Edgar
Allan Poe inspirou versos e um conto seu deu título a uma música: A
Queda do Solar de Usher. Do Oriente, Nagarjuna, autor anterior a Buda,
deu a tonalidade em "Neste Deserto.Fora
esses imortais, aparecem, vivinhos da silva: Akira S, criando um timbre
todo especial com seu stick em Jardim das Gueixas, e Fernando Deluqui,
contribuindo com uma guitarra rascante em Tão Perto. Luís Schiavon mostrou
ser um bom produtor, não interferindo na sonoridade original do grupo.
Dos tripulantes desse navio, talvez o mais conhecido seja Ciro Pessoa
(vocal; guitarra; letras). Isso porque, sem dó, ele foi instituído ídolo
dark local pelo caderno cultural de um diário paulista no que saiu à
caça de "figurinhas" para suas matérias de primeira página. Quem viu
e sabe do assunto se assustou ao ver a cura de Ciro tomando quase que
a página toda, e o letreiro enorme: DARK. Melhor nem lembrar este tipo
de incidente, para não despertar os falsos vampiros... (fora isso, Ciro
também já fez parte dos Titãs). Anna Ruth (ex-Akira S, baixo) parecia
mostrar alhos e crucifixos quando, ao ouvirmos todos juntos a fita deste
LP, envergava o corpo numa coreografia sensual... - "Ela é nossa professora
de dança", sorri Ciro. Quem segura as baquetas é Marinella 7, de formação
erudita, bem aparente no som do Cabine. Wania fica com os teclados,
criando climas bem peculiares e de rara competência. Ao contrário dos
atuais tecladistas, que impoêm timbres grandiloqüentes, Wania se apropria
dos espaços, de forma sutil e económica. Além deste LP e a intenção
de cair na estrada com um show bem produzido necessário para que os
climas redondos fiquem bem visíveis, o Cabine já está testando outras
sonoridades. O som está mudando. Não sabemos ainda para onde vamos,
mas é uma coisa natural mudar, se aprimorar. E isso está acontecendo
com cada um de nós. Daqui a pouco vamos saber o que é, explica Vânia.
Enfim, tudo está ainda meio nebuloso. Mas logo as nuvens se dissiparão,
mostrando o próximo porto uma inspiração a mais. Já em terra firme,
a conclusão poderia ser: "Os tigres que já enfrentei agora cuidam de
mim", como diz Ciro em "Jardim das Gueixas".