Cocteau Twins

Publicado na MusicZine

Imagine um lugar plácido, tranqüilo, onde você pode relaxar e frear por um instante o tempo, mantendo uma sombra sempre a lembrar que a vida não é apenas essa calmaria. Agora, imagine um grupo que faça músicas que te transporte para tal lugar, fazendo uso de uma voz suave e camadas e mais camadas sobrepostas de sons, sem soar banal como a música feita pelas bandas ditas "new age", que procuram te levar para o mesmo local mas sem sucesso. Esse grupo existe, e foi formado nos anos 80, atendendo pelo nome de Cocteau Twins. Para quem não conhece, o Cocteau Twins foi responsável por algumas das mais belas músicas da época, junto com bandas como Durruti Column e Felt, grupos que procuravam trabalhar mais com climas do que com melodias e ritmos, dentro do mesmo espírito do "Kid A", do Radiohead
Formada em 1982 por dois amigos, Robin Guthrie (guitarras/efeitos/fitas) e Will Heggie (baixo), após encontrarem Elizabeth "Liz" Fraser em uma danceteria (diz a lenda que ao vê-la Robin pensou: "Quem dança desse jeito só pode cantar bem."), eles lançaram o seu primeiro disco pela gravadora independente 4AD em junho do mesmo ano: Garlands. Com um baixo soando de forma mórbida, baterias eletrônicas secas, loops intermitentes de guitarras sobrepostas e camadas e camadas de reverberação, lembrava as músicas feitas por outros grupos góticos da época (principalmente Siouxsie and the Banshees), sendo que o diferencial estava no vocal único de Liz.
Em 1983, Will sai da banda e o Cocteau lança o seu segundo disco, Head Over Heels, mostrando a formação de uma linguagem própria. As cascatas de guitarras sobrepostas continuavam e a voz de Liz se mostrava mais solta e trabalhada, criando uma rica série de texturas e o sentimento de transporte para outros mundos que se tornaria a marca registrada do grupo. Ao mesmo tempo que o som ficava mais delicado, Liz começava a se preocupar menos com as letras das músicas, e começava a trabalhar com fonemas desconexos, transformando as palavras em instrumentos a parte. Junto com a entrada do baixista Simon Raymonde tais pesquisas acabaram servindo de base para um dos trabalhos musicais mais geniais de todos os anos 80, o onírico e perturbador Treasure, de 1984.
O disco seguinte, Victorialand, sairia em 1986 em formato semi-acústico sem a participação de Simon, que estava produzindo e compondo faixas para Filigree and Shadow, do This Mortal Coil (superbanda formada por integrantes do cast da 4AD com formação mutante e que já havia contado com a colaboração de Liz e Robin, que fizeram uma versão da música de Tim Buckley "Song to the Siren", em 1984). Durante esse período o Cocteau não parou: eles trabalharam na produção da compilação The Pink Opaque, o primeiro lançamento americano do grupo, que conta com a belíssima Aikea-Guinea. Trabalharam ainda em quatro EPs, assim como colaboraram com o compositor minimalista americano Harold Budd, gerando o disco The Moon and The Melodies.
Blue Bell Know sai em outubro de 1988. Aqui as camadas sobrepostas de riffs foram suavizadas, dando mais destaque à voz de Liz. Em 1989, o grupo inaugura seu estúdio próprio em Londres (September Sound), onde se dedicam ao próximo disco, Heaven Or Las Vegas (1990), que passa a contar com letras com algum sentido e com uma estrutura mais convencional, além de contar com a participação dos guitarristas Mitsuo Tate e Ben Blakeman. É a última gravação do grupo pela 4AD.
Em 1992, o grupo assinou contrato com a gravadora Fontana, dizendo-se cansada de ser "mais uma banda da 4AD" e procurando uma maior independência musical. O álbum Four-Calendar Café (1993) tem como característica o fato de ser o primeiro trabalho em que guitarras soam como guitarras, além de ter letras com temas bem definidos, a maior parte relacionadas com a maternidade (Robin e Liz tiveram uma filha, Lucy Belle, nessa época). O guitarrista sentiu que as camadas e efeitos de suas gravações anteriores tornavam a sua música muito claustrofóbica, e assim reduziu-as ao mínimo possível, o que decepcionou um pouco antigos fãs do grupo.
Em 1996 eles retornam com um trabalho ligado mais ao seu antigo estilo: Milk and Kisses. Tal "retorno" serviu de base para críticas de que o grupo havia estagnado, mas singles lançados posteriormente mostraram que o grupo continuava inovando. Contudo, tais inovações não chegam a resultar num novo trabalho, já que a banda separa-se em fevereiro de 1998.
Atualmente, Robin, junto com Siobhan De Mare, participa do grupo Violet Indiana, que faz parte do cast do selo Bella Union, criado por ele e Simon, onde trabalham principalmente como produtores.
Liz tem colaborado em vários trabalhos, se destacando a participação na música Teardrop, do Massive Attack, em 1998. Em 2000 estava sendo esperado o lançamento do seu primeiro album solo pela Blanco Y Negro, mas nada ainda.
Cabe destacar que durante os 14 anos que o grupo esteve junto, vários singles e EPs foram lançados, assim como participações em trabalhos de outros grupos e que serviu de inspiração para muitas bandas (como Dead Can Dance e Portishead) com seu som etéreo e único.
Discografia:
Garlands '82
Lullabies '82
Peppermint Pig '83
Head Over Heels '83
Sunburst and Snowblind '83
Spangle Maker '84
Treasure '84
Aikea-Guinea '85
Tiny Dynamine & Echoes in a Shallow Bay '85
The Pink Opaque '85
Victorialand '86
Love's Easy Tears '86
The Moon & the Melodies '86
Blue Bell Knoll '88
Heaven Or Las Vegas '90
Iceblink Luck '90
The Box Set "Singles Collection" '91
Four-Calendar Café '93
Evangeline '93
Snow '93
Bluebeard '94
Twinlights '95
Otherness '96
Milk and Kisses '96
Tishbite '96
Violaine '96
BBC Sessions '99
Stars and Topsoil '00

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